Notícias do Tocantins – Na política, há discursos que brilham mais do que as ações. Em Paraíso do Tocantins, cidade que carrega o nome da promessa, mas vive os dilemas do Brasil real, duas decisões judiciais recentes jogaram luz sobre um tema que há tempos clama por seriedade: a cota de gênero nas eleições. 3g3y41
De um lado, o União Brasil teve sua chapa cassada por fraude. Candidaturas femininas que existiam só no papel, como folhas ao vento usadas para mascarar a obrigação legal de incluir pelo menos 30% de mulheres na disputa eleitoral. O caso foi escancarado, comprovado e sentenciado em 1ª instância. Três vereadores foram condenados à perda do mandato. Uma decisão dura, mas necessária para mostrar que as leis não podem ser contornadas com truques de bastidores.
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Do outro lado da praça, ou melhor, da urna
O Republicanos, partido comandado no estado pelo governador Wanderlei Barbosa, enfrentou a mesma acusação em Paraíso. Porém, neste caso, apesar do parecer do Ministério Público Eleitoral pela condenação, a Justiça decidiu inocentar os envolvidos. Não viu elementos suficientes. A candidata apontada como fictícia apareceu em palanque, entregou santinhos e teve 20 votos. A Justiça entendeu que, ainda que modesta, sua campanha foi real.
Maior liderança do UB no Tocantins é uma mulher
No meio do turbilhão jurídico e político, há um detalhe que não pode ar despercebido: o União Brasil, partido que agora amarga a cassação de toda sua chapa proporcional, tem em sua liderança estadual uma das maiores defensoras da educação e da presença feminina na política, a senadora Professora Dorinha. Mulher, professora, referência nacional.
Como é possível que um partido liderado por uma mulher que luta tanto pela representatividade feminina caia justamente nesse tipo de fraude? Não é irônico? Ou é só revelador?
Infelizmente, a cota de gênero ainda é tratada como um obstáculo a ser driblado, não como um direito a ser assegurado. A política que deveria abrir espaço para mais mulheres ainda se acomoda em esquemas velhos, onde as candidaturas "laranjas" são plantadas para cumprir tabela, não para frutificar.
Enquanto isso, seguimos assistindo a esse teatro eleitoral, em que a maquiagem da legalidade cobre o rosto da exclusão. Mulheres continuam sendo convocadas não para disputar, mas para compor. E partidos, inclusive os que têm mulheres fortes em suas cúpulas, fingem que cumprem a lei.
Este artigo não condena, mas convida à reflexão, pois se até aqueles que discursam pela mudança não a praticam na base, o que podemos esperar dos demais?