Imagine ar anos com dores, cansaço extremo e sintomas que nenhum médico consegue explicar. Agora, imagine descobrir a causa de tudo isso por uma mensagem de uma desconhecida nas redes sociais. Essa é a história de Valentina Pinel, uma influenciadora digital de 24 anos que, após uma dica de uma seguidora, foi diagnosticada com a síndrome de Ehlers-Danlos (SED), uma condição genética rara. Mas o que essa história nos ensina sobre saúde, diagnóstico e o papel das redes sociais? m5e66
Valentina enfrentou desconfortos gástricos, insônia, dores crônicas e cansaço extremo desde a adolescência. Após consultar cinco gastroenterologistas, o diagnóstico mais comum era gastrite, uma explicação que nunca resolveu seus problemas. “Eu sabia que algo estava errado, mas ninguém parecia entender”, contou Pinel em entrevista à Marie Claire.
Em 2021, tudo mudou. Uma seguidora, ao reconhecer os sintomas descritos por Valentina em suas redes, sugeriu que ela investigasse a síndrome de Ehlers-Danlos. “Foi um momento eureka. Pela primeira vez, vi que meus sintomas não eram desconexos”, lembra a influenciadora. A partir daí, ela mergulhou em pesquisas e buscou um geneticista para confirmar o diagnóstico.
A síndrome de Ehlers-Danlos é um grupo de doenças genéticas que afetam o tecido conjuntivo, responsável por sustentar a pele, articulações e órgãos. Segundo a Ehlers-Danlos Society, a condição pode causar hiperflexibilidade, dores articulares, fragilidade da pele e até complicações graves, como problemas cardiovasculares. No caso de Valentina, exames revelaram ectasia da aorta, uma dilatação da artéria que aumenta o risco de aneurisma.
Curiosamente, a hiperflexibilidade, um dos sinais clássicos da SED, também estava presente em seu pai e irmão, ambos autistas. Embora a conexão entre SED e autismo ainda seja estudada, casos como o de Valentina levantam questões sobre a importância de observar padrões familiares na saúde.
Além da SED, Valentina foi diagnosticada com outras condições relacionadas, como a síndrome de ativação mastocitária (SAM) e a síndrome de taquicardia ortostática postural (POTS). A POTS, por exemplo, afeta o sistema nervoso autônomo, causando sintomas como desmaios, cansaço extremo e inchaço nas pernas ao ficar em pé. “É como se eu tivesse alergia a ficar de pé”, descreve ela, mencionando o uso diário de meias de compressão para aliviar os sintomas.
A gastroparesia, outra complicação, retarda o esvaziamento do estômago, trazendo desafios diários. “Nunca tem um dia em que eu esteja realmente bem”, lamenta Valentina.
Apesar do diagnóstico, o caminho para um tratamento eficaz foi árduo. O geneticista que confirmou a SED desconhecia a SAM, o que levou Valentina a buscar outros profissionais. Foi apenas em 2023 que ela encontrou a médica de família Juliana Dias Pereira dos Santos, que também vive com Ehlers-Danlos. Essa conexão foi crucial para um tratamento mais adequado. “Ter uma médica que entende a doença por experiência própria fez toda a diferença”, afirma.
Histórias como essa destacam um problema maior: a falta de conhecimento sobre doenças raras entre profissionais de saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 7% da população mundial vive com alguma condição rara, mas o diagnóstico pode levar anos devido à complexidade e à falta de treinamento especializado.
A história de Valentina levanta uma questão intrigante: podem as redes sociais salvar vidas? Plataformas como Instagram e TikTok têm se tornado espaços onde pacientes compartilham experiências e trocam informações. “Se não fosse por aquela seguidora, eu ainda estaria perdida”, reflete Valentina. No entanto, especialistas alertam que, embora úteis, as redes não substituem a consulta médica. Informações online devem ser um ponto de partida, não uma conclusão.
Por outro lado, a visibilidade que influenciadores como Valentina trazem a doenças raras pode incentivar a conscientização e até pressionar por mais pesquisas. Mas e se a próxima pessoa com sintomas semelhantes não tiver a sorte de encontrar uma seguidora atenta?
Aos 24 anos, Valentina já enfrenta limitações significativas. “Se estou assim agora, como estarei aos 40 ou 60? Será que meu corpo aguentará uma gravidez">